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Arquitetura como Situação Relacional

Neste artigo de Holanda e Kohlsdorf é discutido o conhecimento necessário para a prática arquitetônica, enfatizando a importância de entender não apenas os aspectos técnicos da construção, mas também as expectativas e necessidades das sociedades em relação aos espaços criados. Assim, para os autores, o arquiteto precisa conhecer as metodologias e procedimentos para criar lugares/espaços e por outro lado, o arquiteto precisa desenvolver o conhecimento que concatena as variáveis físico-espaciais às expectativas relevantes ao bem-estar ou felicidades das sociedades:

É com esses conhecimentos que o arquiteto se vinculará aos processos de planejamento urbano, dando sua contribuição na proposta de lugares e alertando para as implicações em relação às mais diferentes expectativas. Para tanto, não precisará abandonar a sua área de conhecimento específica, nem se transformar em meio-economista, meio-sociólogo, meio-administrador, etc., perdendo sua identidade profissional.

O dito acima implicaria em uma abordagem que vai além do simples domínio de técnicas construtivas, exigindo uma compreensão profunda das variáveis físico-espaciais e sua relação com o bem-estar humano, histórico e cultural.

Do ponto de vista pedagógico, os autores apontam uma série de especulações, destacando três áreas principais:

a. Tronco de Projeto: Propõe-se uma abordagem prática centrada na resolução de problemas reais e concretos, envolvendo comunidades específicas. Os projetos deixariam de ser exercícios de simulação e passariam a integrar a atividade de extensão universitária.

b. Tronco de Disciplinas Teóricas e Científicas: Divide-se o conhecimento em duas partes. Uma voltada para a criação e materialização dos lugares, incluindo disciplinas metodológicas, de composição e representação. A outra focada na avaliação dos espaços imaginados e desejados, abordando temas como conforto ambiental, configuração arquitetônica e sintaxe arquitetônica.

c. Tronco de Disciplinas Históricas: Destaca-se a importância do estudo sistemático da história da arquitetura e da análise crítica das obras e ideias no contexto cultural e temporal.

Essa abordagem pedagógica buscaria formar arquitetos capazes de projetar espaços de forma mais consciente e transparente, considerando não apenas aspectos técnicos, mas também as necessidades e expectativas das comunidades e o contexto histórico e cultural em que estão inseridos.

Certamente este texto de 1995, há quase 30 anos atrás, consegue ser mais atual do que nunca e nos mostra que a situação do ensino da arquitetura até hoje não foi levado a sério e nenhuma destas especulações aqui levantadas chegaram a ser aprofundadas ou implementadas de maneira sistemática nos cursos de arquitetura no Brasil. Vale a pena ler e refletir sobre o assunto.


TÍTULO DO ARTIGO: Arquitetura como Situação Relacional

NOME DO AUTOR: Frederico de Holanda, Gunter Kohlsdorf

ANO DE PUBLICAÇÃO: 1995

INTRODUÇÃO: Uma estrutura de ensino da Arquitetura pressupõe, necessariamente, a adoção de um marco conceitual sobre esse campo de prática e de conhecimento humanos. Até aí estamos todos de acordo. O problema, ao nosso ver, é que tal marco tem permanecido, no mais das vezes, subjacente à nossa prática pedagógica. O resultado é que o ensino do Projeto se dá tradicionalmente como transmissão “osmótica” da prática do mestre: muito mais pela imitação irreflexiva do ofício, do que pela reflexão consciente sobre os temas e problemas colocados.

No campo da Teoria e da História, igualmente, trata-se geralmente de um relato cronológico sobre autores e obras, em vez da reflexão sobre a lógica social do fenômeno estudado.

Não temos a pretensão de negar a existência de reflexões importantes, em nosso campo, realizadas recentemente ou no passado distante. Mas carecemos de um marco conceitual abrangente e atualizado que, em vista da complexidade crescente de nossa prática e do conhecimento sobre ela, recoloque ao mesmo tempo a especificidade da Arquitetura e as suas relações com outras práticas e outros conhecimentos.

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