A dissertação de Yasmin Vieira já é relevante pelo simples fato de trazer ao debate o corpo como parte essencial para a existência da arquitetura, algo que após simples reflexão, parece obvio, mas que é pouco ou levianamente abordado no ensino da arquitetura e que muitos arquitetos parecem desconsiderar nos seus projetos. A percepção do corpo na arquitetura em relação ao tempo, ação e atualização, o corpo como um elemento mediador e relacional do espaço são outros dos temas abordados na dissertação que merecem a nossa atenção. Contudo, não podemos esquecer que a arquitetura não é uma “máquina de sensações”, como a dos parques temáticos. Devemos entender esta pesquisa como início de uma reflexão na maneira em como projetamos os espaços e como a experiência da arquitetura pelo corpo pode definir a maneira como os articulamos. O tema da dissertação abre espaço para uma discussão profunda e enriquecedora, contudo sentimos falta de um aprofundamento no âmbito do espaço “construído”, mencionado no título, o qual não chega a ser considerado desde o ponto de vista da materialidade ou da tectônica, de grande relevância na constituição física do espaço e na maneira “poética” em como o percebemos.
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: Uma Arquitetura ao Corpo – Investigações sobre a profundidade fenomenológica para a potencialização da percepção no espaço construído
NOME DO AUTOR: Yasmin Elganim Vieira
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2020
RESUMO: O objeto da pesquisa se trata da relação CORPO-ESPAÇO e seu viés pela percepção. O que move essa investigação é potencializar a percepção na arquitetura em prol de uma existência sinestésica (a envolver todo o corpo), de uma existência como ação própria (singular, autônoma do habitante) e de uma existência metamórfica (a transformar o espaço). Assume-se como premissa que a percepção seja o contato primeiro entre corpo e espaço e o ato fundante da experiência espacial e, por isso, potencializá-la na arquitetura significa fomentar esse elo e substanciar múltiplas relações, topologias e espacialidades. Nesse sentido, a ideia expressiva para a existência perceptiva nas três realidades se trata da busca de um espaço a ser formado pelo corpo. Para tal, propõe-se uma noção de arquitetura como experiência, a se constituir em ato, a existir apenas no momento da experiência do habitante como puro acontecimento, algo distendido no tempo e em contínua mutação. Em outros dizeres, uma arquitetura aberta e em formação, que propõe ao habitante a experiência de esculpir o volume arquitetônico interior. A fundamentação dessa noção se inicia pela análise da profundidade, desenvolvida na fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty. A profundidade fenomenológica, além de ser responsável pela abertura da percepção em sua existência sinestésica, instaura uma condição de plasticidade que interessa aqui: o corpo formando o espaço e o espaço sendo formado pelo corpo. Uma vez configurada essa dimensão, a análise se direciona para o como do espaço ser criado com autonomia e sincrônico com a experiência de quem o habita, a encenar percepção como ação própria e metamórfica. Estuda-se, assim, o conceito de externalidade de Rosalind Krauss, oriundo de suas pesquisas sobre como a prática artística do Minimalismo fez com que suas esculturas existissem em latência. Diante do estudo dessas duas referências, desdobra-se uma condição, denominada de voluminosidade em externalidade, que possibilita à arquitetura ser formada com singularidade no momento da experiência do habitante. Essa condição encontrará seu emblema nos arquétipos do sequenciamento cinematográfico, labirinto e noite, e ocorrerá no fluxo temporal de uma descontinuidade na continuidade, nas intermitências do próximo e do longínquo, nas indecisões entre o espaço óptico e do espaço tátil e na descentralização do espaço.
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