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“Arquitetura, aparência, lugares e significados”

As aparências em Arquitetura - Maria Lucia Malard

A obra é muito rica e interessante para estudantes que estão em processo de desenvolvimento do projeto Final de Graduação (TFG / TCC). É de extrema ajuda para àqueles que se encontram na etapa de dúvida (ou desespero) para a elaboração do seu projeto. O livro/ensaio provoca uma reflexão crítica sobre o entendimento das relações humanas com o espaço, bem como estimula os leitores a buscarem novas fontes de literatura sobre o tema, desenvolvendo assim um olhar mais apurado da arquitetura.


RESENHA:

Neste ensaio, a arquiteta e professora da UFMG Maria Lucia Malard, traz sua inquietação quanto a deficiência que existe nos currículos das universidades brasileiras sobre o ensino de projeto. Há uma grande dificuldade dos estudantes em não associar forma e conteúdo, ou seja, há uma desconexão entre o discurso/pensamento/intenção com o desenho/conteúdo/gesto que é proposto. Durante a leitura do livro, para além de estimular o leitor a desenvolver uma análise crítica socioespacial da arquitetura, a autora perpassa pelos movimentos/expressões arquitetônicas abordando as suas principais características e suas relações com o espaço, sociedade, forma e programa – desde o renascimento do século XIV de Brunelleschi até o desconstrutivismo do século XXI de Frank Gehry e Zaha Hadid.

Um ponto importantíssimo que Malard aborda no início de seu ensaio é o cuidado em discorrer sobre o vínculo entre homem x espaço x tempo, e que há uma estrita relação com a arquitetura. Nesse capítulo pode-se traçar um paralelo com a literatura de Paulo Freire, que muito disserta sobre a as “(…) relações que o homem estabelece com o mundo(…) em que “(…)há também uma nota presente de criticidade. A capitação que faz dos dados objetivos de sua realidade, (…)é naturalmente crítica, e por isso reflexiva(…).¹  

O livro, portanto, visa contribuir com a criação e formulação de uma análise crítica da arquitetura, trazendo exemplos práticos, para que possa evocar no leitor e estudante a amadurecer e construir conexões entre o discurso proferido (intenção; pensamento) com o projeto elaborado (gesto; desenho). 


¹FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. 54ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2022. 56 p. 


TÍTULO DO LIVRO: As aparências em Arquitetura 

NOME DO AUTOR: Maria Lucia Malard   

EDITORA: UFMG 

ANO DE PUBLICAÇÃO: 1ª edição (1 janeiro 2006) 

INTRODUÇÃO: Ao observarmos as cidades ocidentais, percebemos que dois grandes universos de formas – e significado -se definem perante os nossos olhos: o antigo e o moderno. O cidadão brasileiro comum, não versado na tratadística de Vitruvio, Alberti, Blondel e outros, não é capaz de perceber a diferença existente entre edifícios renascentistas, barrocos e neoclássicos. Entretanto, reconhece sem nenhuma dificuldade a diferença entre o que é “antigo” e o que é “moderno”. Se solicitado a fazê-lo, é perfeitamente capaz de separar imagens de edifícios antigos daquelas de edifícios modernos.

Por outro lado, ficaria embaraçado se lhe fosse solicitado diferenciar, dentre aqueles que ele distinguiu como “antigos”, os que fossem clássicos, renascentistas, barrocos ou rococós. Também estaria em apuros para separar, dentre os designados como “modernos”, aqueles que fossem brutalistas, construtivistas ou, mais contemporaneamente, high-tech e desconstrutivistas. Talvez esse nosso cidadão os colocasse todos no mesmo saco e os chamasse apenas de “modernos”.   

O que existe, então, de tão marcadamente diferente entre esses dois grandes conjuntos de aparências arquitetônicas, o antigo e o moderno? Seriam realmente dois conjuntos bem demarcados? O que existiria de tão parecido entre as manifestações arquitetônicas desde a Grécia antiga até o início do século XX? E o que haveria de tão similar entre os diversos “estilos” que o senso comum enquadra uma ruptura com tudo e o que veio antes? 

Não se pretende, neste ensaio, encontrar respostas definitivas para essas questões, mesmo porque a exploração aprofundada de apenas uma delas já haveria de se constituir num trabalho de muito maior fôlego. O que se quer discutir – e sobretudo entender- é a importância que se dá às aparências quando se examina o objeto arquitetônico. A chegada da Arquitetura ao mundo visual se dá através de técnicas de representação gráfica ou de modelamento tridimensional, sejam elas operadas manualmente ou mediadas por computadores.

Nesse momento, a Arquitetura é apenas uma imagem, uma representação daquilo que pode vir a ser. Sua existência se efetiva no instante em que ela passa a ser um edifício, um objeto presente no mundo, um artefato que tem um uso prático e apoia-se em técnicas construtivas.  Entretanto, o valor da Arquitetura – o conjunto de atributos que a tornam célebre – reside, na maioria absoluta dos casos, nos seus aspectos visuais: suas aparências. São as aparências – que alguns chamam de “forma”, outros de “plástica”, outros tantos de “configurações volumétricas” – que distinguem os edifícios e permitem-nos agrupá-los em estilos e tipologias como veremos adiante.  

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