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Sobre Tectónica e a poética da construção

O texto aborda uma crítica à atual prática arquitetônica, destacando a perda do seu propósito original de atender às necessidades humanas básicas e de estar em harmonia com o ambiente.

A arquitectura parece ter perdido o encanto de servir as humildes necessidades básicas do homem no sentido do “ser-no-mundo”. Ela afastou-se do intenso afecto pela matéria, enquanto objecto real da concretização da forma e da adaptabilidade intrínseca à sua condição física obrigatória. Parece que a evolução tecnológica cedeu, perante a mercantilização da cultura e deixou de gerir de modo equilibrado a reciprocidade da “logos da téchne” (edificação) e da “téchne do logos” (atribuição de significado), passando a gerir o objecto cenográfico. O edifício, na maioria dos casos, passou a ser a forma resultante do processo essencial de ocupação do espaço vago, na resposta a uma determinada obrigação funcional e de investimento financeiro.

Observa-se uma distância crescente do afeto pela matéria e pela integração harmoniosa da forma com as exigências físicas do espaço. Em vez disso, a arquitetura é descrita como cada vez mais voltada para a mercantilização da cultura, resultando em uma abordagem cenográfica em vez de uma preocupação autêntica com a construção.

A construção tornou-se comum, impulsionada pela mecanização, pré-fabricação e produção em massa, perdendo assim sua singularidade e conexão com a essência do fazer arquitetônico. O texto argumenta que a arquitetura contemporânea muitas vezes se torna uma representação encenada, distante da essência corpórea proposta por teóricos como Frampton.

A influência das tecnologias digitais é destacada como um duplo fio, pois poderia permitir uma reflexão mais profunda sobre a materialização das ideias, mas frequentemente resulta em processos simplificados de produção, distanciando-se ainda mais da materialidade e da substância da forma construída.

Além disso, há uma crítica à perda da complexidade na relação entre ser, pensar, fazer e estar na arquitetura contemporânea, onde o foco se desloca para responder às exigências burocráticas e de mercado, em detrimento da autenticidade e do propósito arquitetônico.

O texto conclui com um apelo para questionar a produção arquitetônica contemporânea, seguindo o exemplo de teóricos como Frampton, Frascari e Gregotti, na busca por uma arquitetura que volte à sua essência estrutural e construtiva, evitando a superficialidade das tendências pós-modernas e promovendo uma abordagem mais autêntica e significativa na criação do espaço arquitetônico.

Estes são factos que nos permitem “[…] questionar a criação do espaço como um fim em si mesmo: uma pressão a que a arquitectura moderna tem sido desrespeitosamente submetida. Em vez de ficar repetindo os tropos vanguardistas, ou de aderir ao pastiche historicista, ou ainda supérflua multiplicação de projectos escultóricos, todos contendo uma dimensão arbitrária porque não se baseiam nem na estrutura nem na construção, os arquitectos podem voltar à unidade estrutural como essência irredutível da forma arquitectónica.”

TÍTULO DO ARTIGO: Sobre Tectónica

NOME DO AUTOR: Sérgio Filipe Pinto Amorim

ANO DE PUBLICAÇÃO: 2013

RESUMO: O presente artigo procura ser apenas um texto de introdução ao estudo sobre a teoria da “poética da construção”. É um tema que nas duas últimas décadas tem suscitado interessantes discussões no contexto da crítica da arquitectura, tanto na prática do projecto, como na análise de obras construídas.

Kenneth Frampton é figura central e grande responsável pela evidência que a tectónica adquiriu, sobretudo a partir dos anos 90. Já em “Towards a Critical Regionalism” (1983), manifestamente contra a “pura cenografia” pós-moderna, faz alusão à necessidade de uma “chamada à ordem criativa” e, no pequeno capítulo “Culture versus Nature” faz uma primeira alusão à forma tectónica como a expressão do “princípio primário da autonomia arquitectónica”. Os “argumentos em favor da tectónica” são apresentados em “Rappel à L’Ordre” (1990), abordando vários conteúdos desde as devidas referências históricas da teoria e arquitectura até à evidência de alinhamento do seu pensamento com a fenomenologia de Martin Heidegger. Este texto não deixará de ser um verdadeiro ensaio à sua obra mais extensa e completa sobre o tema: Studies in Tectonic Culture (1995).

Ainda na linha heideggeriana associada à origem material da arquitectura, outros autores são também referência. Por exemplo: Marco Frascari que revela o detalhe como a “unidade mínima de significação”, e Vittorio Gregotti, que evidencia a importância do lugar.

Ao relermos e reinterpretarmos muitos dos textos destes autores, embora passada mais de uma década depois da sua primeira edição, ficamos com o sentimento de que foram escritos hoje. Ao relembrarmos a tectónica como a “poética estrutural”, estamos a contrariar a banalização da produção, a collage ou o copy paste de informação abstracta, potenciados pela “velocidade informativa” e a afirmar o valor intemporal da criação do architekton.

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